Helena nunca mais

Nunca pensei que um dia fosse dizer adeus a Helena. Sei que já me despedi de muitas e sempre foi triste, mas ela voltava. Quando anunciado seu retorno eu me alegrava novamente, preparava a casa, abria meu coração e meus braços, me deixava ser invadido por suas histórias, fosse uma viagem à Veneza, uma tragédia em Petra, o segredo de que a filha adolescente estava grávida e o pai não sabia, ou pior que Camila, sua outra filha, estava com Leucemia. Eu estava lá, adorava ser fiel a ela, ser seu amigo mais confiável, de mente livre e julgamento limpo. Tudo Por Amor, compartilhamos os momentos de Felicidade porque vivemos uma bela História de Amor juntos, disso eu me lembro bem. Suspiramos tanto por outras tantas histórias de Mulheres Apaixonadas ao nosso redor que foi quase impossível quebrar nossos, afetivos, Laços de Família. Foram muitas as Páginas da Vida que escrevemos enquanto Viver a Vida real era mais difícil do que pensávamos. Mas seguimos confiando um no outro até mesmo nas festas em que ela pedia: _Baila Comigo? e eu aceitava mesmo sem saber dançar muito bem. E tudo certo, afinal estávamos Em Família. Nada melhor que isso. Nada melhor que Helena. Mas agora é o fim, ela nunca mais vai voltar.
Lilian Lemmertz, a primeira Helena e Julia Lemmertz a ultima Helena
Meu coração apertou quando descobri que Manoel Carlos iria escrever sua ultima novela, a ultima Helena. Na época as chamadas empolgantes sobre a nova novela das 9 fizeram essa angústia passar e eu me entusiasmava cada vez mais para viver a experiência de "Em Família (2014)". Lembro de fugir das notícias que me levassem a algum evento e rumo da trama, fiz isso durante toda a novela, tentei viver essa curta duração no seu mais intenso volume de surpresa e expectativa do que pudesse acontecer com Helena, Laerte, Virgílio e Luiza. Mas infelizmente a novela sofreu sérias críticas e a despedida de Manoel das novelas foi curta e amarga. Nem sempre foi assim.

Laerte, Helena e Virgílio
Para evitar fazer aqui todo o desenho cronológico de como a dramaturgia brasileira mudou durante todos esses anos, prefiro dizer que não se faz mais público de novela como antigamente. A novela agora é de todos, dos lúdicos, dos sádicos, dos cómicos, dos violentos e imagino que ela não pertença mais ao amante da boa história. O mínimo que eu espero de uma novela é uma boa história, não precisa ser original, espetacular, mas conte uma história intrigante, diferente. O que aconteceu com "Em Família (2014)" não me espantou em momento algum, porque eu aparentemente o 'amante solitário' das novelas do Manoel Carlos passei pela sensação incomoda de amar suas últimas novelas e ver todo o resto da audiência reclamando ou do ritmo lento da novela ou do regionalismo carioca das tramas do autor. Então enquanto todos reclamavam, eu me deleitava com os capítulos com os capítulos elegantes, reveladores, fortes e sempre com confrontos incríveis e aguardados. Todos os reclamões deveriam então ter prestado atenção nas riquezas de tramas que Manoel criou todos esses anos, nunca foi o ritmo, jamais importou qualquer que fosse a classe social representada, o que sempre importou foram os personagens e suas histórias, suas vidas seus amores, como alguns títulos cansaram de repetir. Onde todos viam monotonia, ele gritava vida na cara de todos, acelerava os dramas as vezes irresolúveis das Helenas. Odiava ouvir as pessoas falando mal de Taís Araújo como Helena Toledo de "Viver a Vida (2009-2010)", porque não entendia como ninguém respeitava a idéia de que aquela Helena era jovem, cheia de problemas, e estava literalmente vivendo a vida, errava muito, não amava de cara o homem certo, era bem insegura em sua vida pessoal, rica e bem sucedida financeiramente e não podia mostrar uma força e maturidade das Helenas que a haviam antecedido. O público ficou com a Helena de Regina Duarte na cabeça, aquela Helena que lutava, forte, decidida, destemida e extremamente segura. Quando todos deveriam saber que as Helenas são na verdade, uma só, com vidas distintas, muitos amores, problemas diversos mas todas dividem a mesma característica de ser uma mulher comum, que batalha pelo que quer, que quando nova tem dificuldades para se estabelecer, se respeitar e quando madura se prova digna de reverencia por seus erros e acertos que a construíram um ser feminino lindamente complexo e real.
Hoje, o dia em que vai ao ar o último capítulo de "Em Família (2014)", eu, indo contra a opinião do público, avalio positivamente a trama criada por Manoel Carlos. De todas as novelas dele que tive o prazer de acompanhar, com excessão de "Por Amor (1997-1998)", Em Família tem a trama mais forte e polêmica de todas. A filha se apaixonar pelo ex-amor da mãe e carrasco do pai, é drama puro, é a clássica tragédia, na sua forma moderna, é um plano perfeito para se tecer uma história, briga, ódio, verdade, maternidade, comportamento, desejo, obsessão e humanidade. A forma como os diversos tipos de relacionamento foram expostos nessa novela, me deixa arrepiado. Para quem assistiu a novela me permito concluir e analisar, que Helena linda e difícil Julia Lemmertz fez, personagem dificílima, a mais intensa, mais exposta de todas, sem medo. A franqueza aparente dela me deixou em dúvida por vários momentos, nunca soube se ela deixou de amar Laerte Fernandes se ainda ama, ou se um dia amou. Na verdade acho que nunca houve amor nessa história, e sim vaidade, essa foi uma trama de aparências, uma família tradicional de Goiânia que se mostrava na cidade como perfeita, mas abrigava debaixo do teto, um casamento infeliz, um jovem alcoólatra, e um permissivo amor entre primos que só se fazia elogiar e não perceber a loucura de Laerte que levou todo esse tradicionalismo e exibicionismo ao fim com o cume da tragédia que envergonhou a cidade e os sobreviventes traumatizados durante anos. Essa ultima Helena é a personificação exagerada da vaidade, seu romance adolescente um cortejo de sua beleza, a tragédia uma consequência do seu poder de conquista, e o relacionamento conturbado com a filha Luiza um retrato velado da inveja de um passado, uma juventude, da disputa por seu amor. A complexidade dessa Helena coroa a trajetória brilhante desse autor, capaz de criar uma heroína tão inteira e verdadeira que a maioria nem percebe e vê uma fábula enfeitada ao som de bossa nova, quando na verdade é uma história forte e cruel.

Julia Lemmertz como Helena Fernandes
Humberto Martins como Virgílio Machado
A relação entre Helena e Luiza movimentaram a trama quando Luiza se apaixona por Laerte
Laerte e Luiza
Os jovens Laerte e Helena
Bruna Marquezine como Luiza
Ouvi pessoas incrédulas a história de Helena (Julia Lemmertz), Laerte (Gabriel Braga Nunes), Luiza (Bruna Marquezine),  e Virgílio (Humberto Martins), julgando impossível, exagerado e intolerável o amor de Luiza por Laerte. A devastadora aversão ao fato da filha amar o mesmo homem que a mãe amou no passado foi forte o bastante para que a novela não tenha se popularizado. Distantes, as pessoas se julgaram distantes das atitudes dos personagens, contrárias as decisões de Helena, enojadas com Luiza. Não tenho 'psicologia' o bastante para explicar o porque a identificação é importante para as pessoas, só não acho descartável o que é diferente de mim. Dificilmente me pareço com Helena Fernandes, muito menos com Luiza Fernandes, mas me aproximo e compartilho o drama de mãe e filha com a mesma igualdade que desfruto qualquer história, palpável na minha realidade ou não. Isso não impedi uma história de ser boa, se até pé de feijão da em história boa. Poucas pessoas podem contar que viveram o drama de Helena Vianna de "Por Amor (1997-1998)" que deu o próprio filho por amor a filha que havia perdido o dela, e nem por isso a novela deixou de ser um sucesso, mesmo não havendo identificação com a personagem principal. O que mudou de lá pra cá, o público ou a publicação? Será que "Por Amor (1997-1998)" faria sucesso se tivesse começado no dia 3 de Fevereiro de 2014, como aconteceu com "Em Família (2014)"? Novela é para sonhar, para sofrer junto, tudo é permitido, é história, é novela. Feliz é quem ama, é tão chato odiar tudo, ser pudico com tudo, infeliz é quem não se permite. Só sei que eu amei demais, sou feliz, eu amei Helena.
E assim quase como em uma novela, o que começou com a mãe (Lilian Lemmertz) termina com a filha (Julia Lemmertz), duas helenas, dois tempos, duas história, juntas como uma só.
Tudo foi uma só história.
Helena sempre quis ser amada, mas nunca deixou se abater por não ter o amor de ninguém. Ela existe e sempre vai existir, ela nunca precisou ser boazinha para ser mocinha, nem amada para ser alguém, mesmo que não se importem com ela jamais deixará de ser importante. Assim ela é para mim. Vou passar o resto dos dias torcendo por uma reprise, uma oportunidade, como quem olha um álbum de recordação, saudoso, nostálgico, isso porque ela se foi para sempre e o meu amargo adeus deveria ser um doce até logo.

Essa página linda reúne todas as atrizes que interpretaram Helena nas novelas de Manoel Carlos, em depoimentos emocionantes e sinceros sobre a experiência de viver um símbolo da televisão brasileira. 

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